Escuta revela como funcionava esquema de venda de CNHs em Araguaína

Agente infiltrado gravou conversa com vereador Gilmar da Autoescola, apontado como um dos chefes da organização. CNH era emitida sem que o candidato participasse das etapas do processo.

Quadrilha que forjava habilitação de CNHs é presa entre eles um vereador ©Reprodução/JA 1ª Edição - TO 
Uma escuta feita com a ajuda de agentes da Polícia Civil infiltrados revelam como funcionava as vendas de CNHs em Araguaína. Para descobrir o esquema, um dos agentes se passou por uma pessoa interessada em comprar a carteira e marcou um encontro na autoescola do vereador conhecido como Gilmar da Autoescola (PSC). Os detalhes constam em um documento divulgado pelo Ministério Público Estadual. O parlamentar e mais sete pessoas, entre elas servidores do Detran, foram presos numa operação nesta quinta-feira (13).

Os suspeitos devem ser indiciados por corrupção, associação criminosa e falsificação de documento público. "Eles agora estão presos temporariamente. A prorrogação dessa prisão pode ser pedida por mais cinco dias, pode ser convertida também em prisão preventiva", afirma o delegado José Anchieta.

O Detran informou que, em paralelo a Polícia Civil está seguindo investigações internas. Disse que todos os envolvidos serão punidos de acordo com as competências administrativas do órgão. O G1 tenta contato com a defesa dos presos na operação.

A operação foi realizada pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público Estadual, com o apoio da Polícia Civil.

A conversa entre um dos agentes infiltrados e o vereador foi gravada. Na escuta, Gilmar detalha o suposto esquema. "Você vai gastar o que mais? Eu vou ter que fazer pra ti a escolinha teórica, a prova teórica, as aulas práticas e o teste de volante. Isso aí acaba envolvendo muita gente, entendeu né? É, acaba envolvendo muita gente, então, aí é onde você vai gastar um pouquinho a mais. Eu, daqui, daqui eu já ganhei umas aulas aqui".
Oito pessoas são presas suspeitas de participarem de esquema de venda de CNHs ©Ascom/MPE
Segundo as investigações, as carteiras eram vendidas a um preço que variava entre R$ 3 e R$ 4 mil. Consta na representação do MPE que o vereador, outro dono de autoescola e os funcionários do Detran são suspeitos de burlar os controles processuais para permitir que a CNH fosse gerada e emitida sem que o candidato participasse de qualquer certame ou etapas do procedimento, quais sejam: curso técnico teórico, exame teórico e direção veicular.

O Gaeco acredita que o vereador e outro dono de autoescola Cleyton Coelho chefiavam o esquema. Os outros envolvidos eram funcionários do Detran. São eles: Helio Marcos Ferreira Sousa, Irismar Rodrigues, Célio Raildo Pereira Ribeiro, Jaésia Alves Oliveira, Fábio Fernandes Barroso e Alex André Escolar Morales.

O vereador que também é dono de autoescola disse que não sabia o motivo da prisão. "Nem sei do que se trata, não sei porque eu estou aqui. Se é para prestar um depoimento. Então só vou me manifestar depois de ser ouvido pelo delegado."

"O Gaeco de Palmas conseguiu identificar que o Gilmar da Autoescola, de Araguaína, cooptava as pessoas que tinham interesse em fazer a carteira de motorista de forma fraudulenta. Ele também fazia o contato com os funcionários do Detran, responsáveis por inserir os dados do sistema para que a carteira fosse emitida sem que os candidatos a condutores fizessem nenhum tipo de prova", explica o delegado Bruno Boaventura.

Agentes do Gaeco apreenderam documentos na Câmara de Vereadores. Com o material, os investigadores esperam alcançar os condutores que foram beneficiados com a compra das carteiras.
Gaeco e Polícia Civil fazem operação contra venda de CNHs ©Ascom/MPE

Por G1 Tocantins